Entrevista com Jean-Ken Johnny da MAN WITH A MISSION

Um ano após sua última passagem pela Europa, a MAN WITH A MISSION voltou com a nova turnê Kizuna no Kiseki. A banda literalmente incendiou o Trianon, proporcionando aos seus fãs uma apresentação inesquecível com uma setlist incrível. O público compareceu em peso para esse show – que estava esgotado – e ficamos muito felizes em ver tantas pessoas podendo ver a banda ao vivo pela primeira vez! 

Sua música muitas vezes mistura vários gêneros, como rock, metal e eletrônico. Como é o processo criativo para manter um som tão único e dinâmico?

Jean-Ken Johnny: Hum, acho que eu e a maioria dos membros da banda somos grandes fãs da música dos anos 1990, e acredito que aquela Era foi cheia de colaborações experimentais entre gêneros, especialmente rap, metal e outras fusões musicais que surgiram. O rock alternativo também foi um termo muito conveniente, sabe, era diferente do que ouvíamos e misturava muitos gêneros. Nós éramos grandes fãs dessa mistura, mas sempre com uma base sólida de rock. Acho que ainda tentamos fazer isso hoje, mantendo o espírito daquela época, mas adaptando ao presente. Por isso, experimentamos com muitos gêneros e tentamos juntá-los.

Ao longo dos anos, vocês conquistaram uma fanbase internacional sólida. Como você se sente em relação à recepção global da sua música? Você compõe de modo diferente sabendo que alcança fãs no mundo todo?

Jean-Ken Johnny: Receber todo esse retorno do exterior é incrível. Sempre escutei música de todo o mundo, não apenas música japonesa, e sou um grande fã do rock internacional. Sempre foi um sonho compor músicas que pudessem atingir pessoas de todo o mundo, vendo vídeos de festivais em lugares como Inglaterra, França e Estados Unidos. Sempre foi emocionante ver bandas de vários países. Então, acho que meu processo criativo não mudou, porque desde o início eu sempre quis escrever para um público global.

Suas apresentações são conhecidas pela energia e pelo impacto visual. Como vocês se preparam para um show?

Jean-Ken Johnny: Como nos preparamos? Acho que isso não muda muito para os seres humanos. Temos que alongar bastante nossos músculos porque, você sabe, não dá para se mover como quando se tem 70 anos. Às vezes me machuco, então alongamos bastante, na verdade, nos preparamos muito. Quero dizer, movimento muito o meu corpo, até faço alguns testes vocais, coisas assim... mas não é esse tipo de informação chata que vocês querem. Acho que você está tentando perguntar se existe algum ritual ou algo assim. Sempre nos concentramos em algo como um ditado japonês que diz que você deve viver o seu dia como se esse pudesse ser o último dia da sua vida. Hoje é mais um dia, mas é sempre o dia mais próximo e mais novo de toda a sua vida. Admiro muito esse modo de pensar e espero que o que fazemos nos shows expresse esse sentimento.

Que papel a interação com o público desempenha nos seus shows? Como você adapta sua presença no palco para diferentes públicos e locais, desde pequenas casas de show até grandes arenas?

Jean-Ken Johnny: Há definitivamente mudanças físicas quando estamos em locais menores, pois estamos mais próximos do público e é mais fácil interagir e conversar com os fãs. Em locais maiores, pequenos movimentos não fazem muita diferença, então focamos mais nos visuais. Mas a energia que colocamos no show não muda, seja em um lugar pequeno ou grande. Tudo é sobre a energia que você transmite.

Você pode compartilhar algumas histórias engraçadas das suas turnês?

Jean-Ken Johnny: Tem muitas! Falando sobre a França, já fui furtado lá. Uma vez, fomos deixados para trás na Bélgica. Estávamos em turnê na Europa e devíamos ir para Paris de ônibus, mas o motorista me deixou lá. Ele tinha me dito que sairíamos às 8h da manhã, e eu estava lá às 6h, ou 7h, algo assim. Não vi o ônibus, então liguei para o manager e perguntei: "Onde está o ônibus?". Ele estava dormindo no ônibus e não entendeu a situação, achou que eu estava ligando de dentro do ônibus. Ele disse: "Não consigo entender, te ligo de volta", e eu fiquei tipo: "O que está acontecendo?". Liguei para ele de novo, e ele disse: "Ah, agora estou no banheiro, então te ligo depois". Tenho muitas histórias assim!

Vocês vieram para a Europa há um ano. Quais são os planos para esta turnê?

Jean-Ken Johnny:  Faz um ano desde a última turnê na Europa, e foi bem rápido para nós. O que eu realmente queria era me conectar com os fãs e mostrar a eles que estamos dispostos a voltar, e em cada país que passamos, a reação foi incrível. Muitos vieram novamente e até mais pessoas do que antes. Está sendo ótimo.

Na última entrevista com o JaME, você falou sobre como a pandemia afetou as atividades da banda, especialmente em termos de turnês e interação com os fãs. Como sua relação com os fãs evoluiu após a pandemia?

Jean-Ken Johnny: A pandemia afetou a todos, não só a nós. Acho que as pessoas passaram a apreciar ainda mais as apresentações ao vivo, que não são algo garantido. Percebo que, depois da pandemia, os fãs estão aproveitando muito mais cada momento em shows. Como eu disse, pode ser o último dia de toda a sua vida, e você deve aproveitar cada momento. Eu converso sobre isso com o público. A pandemia em si foi algo triste, mas realmente mudou nossas mentes e como pensamos sobre shows, além do cenário de plataformas de streaming, que todos começaram a usar. Isso foi algo que deveríamos ter pensado há muito tempo. É possível fazer mais do que imaginamos. Podemos nos apresentar para 100 pessoas e alguém em um lugar como o Brasil assistir, talvez 10 milhões de pessoas assistam ao vivo. Isso realmente mudou as oportunidades da música e também fez com que os shows se tornassem importantes e significativos ao mesmo tempo. Então, eu espero que os fãs quando vierem aos nossos shows realmente aproveitem cada momento.

Há desafios específicos que vocês enfrentaram ao produzir o último álbum, que não tinham encontrado antes?

Jean-Ken Johnny:  O maior desafio foi escrever músicas com uma mensagem direta sobre a época em que estávamos vivendo. Normalmente, nossas músicas são mais abstratas, mas dessa vez focamos na pandemia e suas consequências. Nunca fizemos isso antes. Tive que ser mais concreto nas letras, o que mudou o processo criativo. Embora tenha sido desafiador, foi divertido e o resultado foi poderoso.

Vocês colaboraram com diversos artistas ao longo dos anos. Há alguma parceria dos sonhos que ainda esperam realizar?

Jean-Ken Johnny:  Trabalhar com pessoas como Patrick Stump, da Fall Out Boy, foi incrível. Sou um grande fã dessa banda e o processo criativo que ele me mostrou foi muito inspirador. Mas, honestamente, não sou muito bom em imaginar colaborações dos sonhos. Muitos dos meus heróis dos anos 90 são difíceis de trabalhar, e eu gosto disso. Ouço muitas histórias sobre eles, em entrevistas e revistas, dizendo que não são fáceis de trabalhar, mas eu gosto assim. Quero dizer, é assim que um artista deve ser. Então, seria uma honra trabalhar com eles, mas, por enquanto, eu vou me manter apenas como fã e ouvinte e talvez aprender com isso.

Milet descreveu a parceria com vocês em Kizuna no Kiseki e Koi Kogare como trabalhar com um irmão mais velho. Como você vê sua relação com ela e como isso influenciou o processo criativo?

Jean-Ken Johnny:  Milet é uma das minhas cantoras favoritas desta era. Na primeira vez que ouvi sua voz, provavelmente estava lavando a louça e a voz dela surgiu na abertura de um drama. Levou apenas 2 segundos para eu pensar: "Uau, quem é ela?". A textura que ela tem na voz é incrível! Ela é definitivamente uma das maiores, mesmo na nossa era atual. Falei muito sobre isso com os membros da banda. Fui o primeiro a dizer que havia uma cantora incrível e apresentei a música dela para o baixista. Ele ficou tipo: "Uau, ela é incrível!" e, assim, começamos uma parceria. Escrevemos algumas músicas juntos, ela cantou em uma de nossas canções e o nosso baixista produziu uma música para ela. Kizuna no Kiseki e Koi Kogare foi uma ideia dos produtores do anime. Eles queriam que a série tivesse um tema de herói e, ao mesmo tempo, pensaram que a música-tema deveria ser um dueto entre uma mulher e um homem. Foi uma honra colaborar com ela novamente. Como eu disse, sou um grande fã dela, e foi simplesmente fabuloso. O processo de trabalho foi tão fácil, porque eu imaginei a música Kizuna no Kiseki com ela cantando e, como fã, projetei seu estilo vocal, seu estilo, e foi assim que compus a música.

Tanto Kizuna no Kiseki quanto Koi Kogare estão ligadas a "Demon Slayer", uma série com forte profundidade emocional. Como você abordou a composição dessas faixas para se alinharem às histórias intensas do anime?

Jean-Ken Johnny: Eu li muito o mangá. Já sabia da importância da série, então, depois de receber o convite, terminei de ler toda a história para poder interpretar a filosofia e a mensagem que ela transmite. Foi muito difícil para mim descobrir como a nossa banda poderia se alinhar naturalmente com esse tema e criar uma boa abertura para a animação. A filosofia e a mensagem de "Demon Slayer" são profundas, e tentei ser um contador de histórias através das músicas. Foi um prazer entrar no mundo da série e imaginar que eu era um dos personagens.

Vocês estão prestes a comemorar 15 anos de banda. Como você reflete sobre essa jornada?

Jean-Ken Johnny:  Tem sido incrível. Sempre sonhei em tocar pelo mundo e receber reações do público. Não tenho um objetivo concreto, mas sempre quis continuar na estrada. Esses 15 anos nos permitiram fazer isso e buscar mais. Então, não sou muito bom em responder perguntas sobre metas e coisas assim, mas acho que não responder é a resposta, sabe? Ainda estamos na estrada e é isso que importa. Muito obrigado até agora.

Há planos especiais para celebrar os 15 anos da banda?

Jean-Ken Johnny: Sim, estamos planejando muitas coisas. Queremos celebrar com todos, não só no Japão, mas no mundo todo. Estamos pensando em algo mais global desta vez. Normalmente, focamos apenas no Japão, mas espero que possamos fazer algo mundial para o nosso 15º aniversário. Queremos acompanhar a reação de todos.

Podemos esperar um novo álbum em breve?

Jean-Ken Johnny: Isso depende do nosso trabalho, mas para te dizer a verdade, estamos planejando gravar este ano. Não posso garantir um álbum, mas com certeza vocês podem esperar novos materiais da banda.

Você tem uma mensagem final para os leitores?

Jean-Ken Johnny: Muito obrigado pelo seu apoio sempre. É uma honra e um prazer que os fãs leiam as minhas entrevistas. É uma honra poder visitar todos os países onde os leitores moram. Espero poder vê-los nos shows. Esta foi a MAN WITH A MISSION.

O JaME gostaria de agradecer a Jean-Ken Johnny pela entrevista.

Além da entrevista, Jean-Ken Johnny ainda arranjou um tempo para gravar um vídeo de aniversário para os 20 anos do JaME. Confira a mensagem a seguir:

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