Entrevista com TOMIKITA no dia 6 de junho, depois de seu primeiro show em Londres.
TOMIKITA pode fazer parte da cena musical coreana e americana por mais de uma década, mas não foi até o dia 6 de junho de 2008 que o grupo finalmente pisou no Reino Unido para uma performance.
Depois da performance de TOMIKITA, o KoME sentou com os três membros da banda no telhado do Peel Club em Kingston, para perguntar sobre o começo e o futuro da carreira deles e sobre a cena musical coreana.
Vocês poderiam se apresentar, por favor?
Tomikita: Meu nome é Tomikita, esse é o nome pelo qual eu sou chamado. Eu sou originalmente de Los Angeles, mas estou atualmente na Coréia promovendo o novo álbum coreano que acabei de lançar. Esse é meu baixista Albert.
Al: Sim, Al! Al Park.
Tomikita: Eu o conheci por intermédio de um amigo meu que morreu... Joseph, há bastante tempo atrás.
Al: Sim, Joseph estava produzindo seu álbum. Eu estava em uma banda diferente na época, mas ele estava produzindo meu álbum também e nós nos conhecemos.
Vocês acharam fácil trabalhar juntos ou os antecedentes de vocês eram tão diferentes que causou problemas?
Tomikita: Tudo funcionou organicamente. Foi muito natural. Então, ele entrou na banda e tocou conosco em alguns shows na Coréia, depois eu fui trabalhar em Los Angeles de novo e foi quando eu convidei Al para ir comigo aos Estados Unidos. Esse é meu baterista Lim Chung. Chung tem tocado comigo há um longo tempo.
Então, vocês eram amigos antes de começarem a tocar juntos?
Tomikita: Sim, quando eu cheguei na Coréia, ele foi meu primeiro baterista. Então nós nos conhecemos e acabamos indo para o Japão tocar no Fuji Rock Festival juntos e isso foi muito divertido. Foi quando o Neil Young foi o artista principal, em 2001. De qualquer maneira, foi assim que todos nós nos conhecemos. Al entrou depois e nós tivemos alguns guitarristas que tocaram com a gente, mas agora nós decidimos ficar como uma banda de 3 membros já que estamos tocando música eletrônica. Nós vamos usar outro DJ eventualmente.
Como você foi parar em Los Angeles?
Tomikita: Eu fui para lá com quatro anos, mas eu nasci na Coréia. Minha família se mudou para Los Angeles e desde então eu moro nos Estados Unidos. Eu lancei meu primeiro álbum, Tomi-kita, lá. Uma das músicas fez parte do filme Silent Trigger estrelando Dolph Lundgren. Eu fui o primeiro artista coreano a ter uma música na trilha sonora de um filme de Hollywood. Era um tipo de música industrial chamada Desire e eu lancei o álbum nos EUA, que foi o meu primeiro como vocalista.
Naquela época, meu baixista era o Scott Shriner que atualmente toca no Weezer e essa foi sua primeira banda em Los Angeles. Ele está bem agora. Eu lancei meu primeiro álbum nos Estados Unidos, eu era o cantor asiático, todos os outros eram caucasianos, era uma banda de 5 membros, incluindo o Scott.
Esse álbum foi licenciado na Coréia na época e eu fui convidado a fazer uma turnê promocional lá e eu fiz. Antes disso, eu nunca tinha voltado à Coréia, eu estava vivendo em Los Angeles, fazendo minhas coisas lá. Quando eu voltei, eu quis morar lá, então eu comecei a escrever e lançar músicas coreanas. Antes disso eu nunca tinha escrito ou cantado uma música em coreano, todas as minhas músicas eram em inglês.
Você achou difícil voltar para cantar na Coréia?
Tomikita: Sim. Definitivamente. Eu não falava coreano tão bem na época e eu tive que reaprender. Hoje eu sei falar coreano e inglês, então eu posso escolher.
Eu gostei que hoje você falou com a audiência tanto em coreano quanto em inglês!
Tomikita: Sim!
Como você descreveria sua música?
Tomikita: Bem o tipo de música que eu realmente gosto é industrial e eletrônica, mas desde que eu tenho trabalhado na Coréia, trabalhando com bandas com o Al e o Chung, que possuem uma origem bem diferente em termos de influências. Como nós estamos trabalhando juntos, é bastante versátil. Eu não conheço muitas pessoas que trabalham assim e se saem bem nos Estados Unidos ou aqui, mas na Coréia as pessoas realmente gostam disso. Mesmo se você é uma banda de rock pesado como Y.B., eles também tem suas coisas pop. Eu acho que bandas como The Beatles são muito versáteis. Todos se lembram de suas músicas pop, mas eles também têm músicas artísticas. Se eu classificasse minha música, eu a chamaria de rock eletrônico.
Quais são suas influências musicais?
Al: Minha influência musical é basicamente Smashing Pumpkins. Como um baixista, eu cresci ouvindo o Flea do Red Hot Chili Peppers e eu realmente admiro a forma como ele toca baixo. Para compositores, eu gosto do Billy Corgan do Smashing Pumpkins. Eu diria que eles dois são minhas principais influências para o que eu sou hoje.
Tomikita: E quanto a você, Chung?
Chung: Eu sou influenciado pelo Tommy Lee do Mötley Crüe e Metallica.
Tomikita: Eu sou muito influenciado por The Beatles, The Doors e Nine Inch Nails. Eu simplesmente gosto de todos os tipos de artistas hoje em dia.
Você se apresentou em musicais assim como compõe sua própria música: O que você prefere e por quê?
Tomikita: Eu definitivamente prefiro fazer minha música, mas os musicais foram divertidos! Fazer o papel de Jesus foi legal. Eu fiz um Jesus satânico, no entanto! Eu fui realmente obscuro quando estava atuando, mas foi divertido. Eles queriam isso, na verdade, eles não queriam um Jesus bonzinho e legal para Maria Maria.
Como eles te contataram para fazer esse papel?
Tomikita: Bem, na época eu tinha cabelo comprido e eles acharam...
Al: Que você se parecia com Jesus?
Tomikita: Bem...Um Jesus coreano! Eu aprendi muitas coisas durante o musical. Recentemente, me ofereceram um papel em um famoso musical francês, mas eu não consigo me lembrar do nome agora. Mas de qualquer maneira, eu recusei porque eu quero seguir minha própria carreira musical. Eu levei quase três anos para completar meu álbum coreano In Dreamz, que saiu há mais ou menos um mês atrás. Eu planejo lançar o álbum no Japão e espero que possa lançar também na Europa e nos Estados Unidos. Ele tem características e sentimentos diferentes. Para o lançamento coreano tinham baladas, mas o álbum que eu quero lançar na Europa, América e Japão é mais rock-eletrônico.
Como tem sido se apresentar junto com Y.B?
Tomikita: Foi divertido porque eles são meus amigos. Nós somos amigos há anos e quando eu vim pra Coréia pela primeira vez, Yoon Do Hyun não tinha lançado um álbum ainda. Ele era apenas um músico que queria lançar um álbum, então eu o produzi. Não o álbum inteiro, porque eu estava ocupado gravando, mas eu produzi o single Tarzan, que foi o primeiro single deles. Foi assim que eu os conheci. Desde então nós somos próximos e eu escrevi várias músicas pra eles. Nós tocamos juntos o tempo todo na Coréia fazendo shows em clubes.
Vocês sempre recebem uma boa reação como a de hoje à noite ou varia de show pra show?
Tomikita: sempre recebemos uma boa reação, especialmente na Coréia. Eles são um povo muito faminto quando se trata de música. Você tem que se lembrar que isso não vai continuar por um longo tempo, porque você não sabe o que é verdadeiro. Eu percebi que você não consegue entender 100% do que eles estão pensando. Eu acho que é assim que está a sociedade hoje em dia. Eu tentei analisar porque está assim, mas tem vários fatores envolvidos. Quando eu voltei pra Coréia, foi diferente do que eu achava que seria, então, apesar deles estarem sorrindo na minha frente, você não sabe o que eles estão pensando.
É um passado cultural porque houve várias guerras na Coréia e você sempre tem os navios japoneses chegando. A Coréia foi sempre segregada, então eles estão sempre se cuidando. Alguém disse que os coreanos são os judeus da Ásia, mas isso se concentra no lado negativo e há mais pontos positivos para os Coreanos.
Essa é a primeira vez que você toca no Reino Unido, mas você já visitou o Reino Unido antes?
Tomikita: Eu vim aqui há uns 7 anos atrás porque eu tinha uma namorada, uma irlandesa que morava em Londres. Eu a conheci em Los Angeles e nós saímos por um tempo, então eu vim e fiquei com ela.
Você gostou quando veio aqui pela primeira vez?
Tomikita: Na época eu amei. Foi o máximo. Ela morava aqui, então ela me levou nos clubes, haviam vários clubes de house e techno. Na verdade eu me diverti mais naquela época do que agora, tirando o fato de eu ter feito um show dessa vez. Sim, eu amo Londres! Eu só queria que as coisas fossem mais baratas!
Al: Eu também já estive aqui antes. Ano passado eu vim a Londres para ver uns amigos. Um amigo meu, Scott, que toca guitarra, ele tocou conosco algumas vezes.
Tomikita: Scott costumava ir à Coréia.
Al: Eu vim pra ficar com um amigo, é sempre legal. Eu gosto daqui, mas sempre fico com a carteira vazia!
Vocês tem alguns dias de folga antes da performance na Trafalgar Square, tem algo que vocês queiram fazer enquanto estão aqui?
Tomikita: Uhm...Sim...Definitivamente
(a banda ri)
Eu quero sair com alguém.
Al: Com uma garota?
Tomikita: Sim! Eu acho, honestamente, que é muito importante. Enquanto eu estava na Coréia, trabalhando no álbum coreano eu dei várias entrevistas, mas você não pode se expressar direito lá, porque é uma cultura diferente. Mas sim, eu definitivamente quero sair com uma pessoa legal e me divertir. Isso seria legal.
Você tinha alguma expectativa para o show de hoje à noite?
Tomikita: Eu acho que o show de hoje à noite foi melhor do que eu esperava. Pra ser honesto, eu achava que seria pior porque eu não tenho trabalhado no mercado coreano como o Y.B. Eles têm bastante fãs na Coréia, tocaram em vários shows e tiveram várias canções de sucesso por lá. Além disso, o vocalista tem seu próprio programa de TV, Love Letter, então ele tem fãs em todos os lugares. Se você tem coreanos vindo para o show, eu achei que eles iriam responder ao Y.B., mas depois de nos apresentarmos pra eles, eles estavam curtindo nossa banda também. Foi divertido.
Como você acha que a música ocidental difere da coreana? Você acha que há mais mercado para sua música no ocidente do que na Coréia?
Tomikita: Há coisas similares. É diferente quando se trata de se expressar. Tudo é mais rápido na Coréia, eles gostam de você rapidamente, mas deixam de gostar de você rapidamente também. Se eles acham algo melhor, eles começam a gostar da outra coisa. Até os prédios na Coréia, você entra em uma loja, e na próxima vez que você entra é outra coisa. Então, eu volto pra Los Angeles, entro em um restaurante em particular que existe ali há uns 20 anos. Eu ainda gosto das duas culturas, eu tento olhar pra isso de forma positiva ao invés de negativa. Sempre tem motivos.
Você acha que tem mais mercado pra sua música no ocidente do que na Coréia?
Tomikita: Eu não sei.
É muito cedo pra dizer?
Tomikita: Sim, é muito cedo porque nós não trabalhamos muito nesse mercado ainda.
Vocês querem voltar, em algum momento?
Tomikita: Sim.
Al: Você não vê muitas bandas asiáticas tocando no ocidente, seja nos Estados Unidos ou no Reino Unido. Você não vê muito disso. Existem muitos talentos na Ásia também, mas a percepção de que o rock & roll foi criado no Reino Unido ou na América é bobeira.
Tomikita: Eu discordo. Eu acho que está diferente agora. O mercado está mais aberto. Eu acho que se a música é boa, existe a chance de uma banda asiática fazer sucesso no mercado ocidental.
Sobre um assunto parecido: A cena musical japonesa é bastante popular na Europa enquanto muito poucas bandas coreanas fazem turnê na Europa, porque vocês acham que isso acontece e como isso faz vocês se sentirem?
Tomikita: Sim, é isso que estou dizendo. Eu acho que tem várias bandas japonesas populares na Europa e nos Estados Unidos. Tem sido assim por um bom tempo. No tempo que o Heavy Metal fazia sucesso, quando eu era criança, havia uma banda chamada LOUDNESS, do Japão. Eles ainda estão fazendo sucesso no Japão e Akira Takasaki possui sua própria empresa de guitarras.
De qualquer forma, eu devo encontrá-los em duas semanas. Nós planejamos lançar nosso álbum no Japão e iremos pra lá na semana que vem e depois voltaremos pra Coréia. É por isso que eu vejo a possibilidade dos coreanos fazerem sucesso nos Estados Unidos e no Reino Unido. É só uma questão de tempo. Os japoneses sempre estiveram à frente, em termos de música. Não estou dizendo que eles são mais talentosos, eles só estão mais avançados em termos de alcançar novos países.
Quando você olha pra estrutura do país, é uma ilha, então sempre houveram navios parando no Japão. Eles sempre aceitaram coisas novas e estiveram abertos. Os coreanos têm uma sociedade com a mente mais fechada, eles têm medo de se abrir para cultura ocidental e ainda tem essa mentalidade. Tem várias bandas coreanas indo bem, mas ninguém está realmente tentando atingir outros países. Eu também acho que tem a ver com a pronunciação de vocês, porque se isso não acontecer, eles não vão fazer sucesso.
Esse foi o problema que o LOUDNESS teve, eles não estavam realmente tocando as pessoas com suas palavras.
Al: O Japão tem um mercado maior. As pessoas ainda compram CDs no Japão, mas na Coréia elas decidem baixar na Internet.
Por que você acha que isso acontece?
Al: É uma coisa cultural. Se os artistas ganham dinheiro quando vocês compram os álbuns, então é natural que eles sejam criativos e lancem mais coisas, o que permite um mercado maior.
Tomikita: Por que você acha que é um mercado maior? Digo, não tem tantas pessoas a mais no Japão. Por isso eu mencionei anteriormente que eles têm a cabeça mais aberta em aceitação.
Al: É natural para bandas japonesas tocar em outros países.
Tomikita: É só uma questão de tempo. Na Coréia tem vários estreantes que estão tentando ir pra outros lugares. Eu acho que estamos ficando muito políticos aqui, eu não quero falar sobre política.
Eu acho que o álbum que eu estou tentando lançar na Europa e na América tem uma chance porque, apesar de eu ter vendido um milhão de CDs nos Estados Unidos, há quatorze anos, eu lancei um álbum nos Estados Unidos. Como eu disse antes, uma canção do álbum foi incluída na trilha sonora de um filme, então eu fui aceito. Esse é um dos motivos que eu pretendo lançar meu álbum em inglês. O álbum será chamado After the Rain.
Você sabe quando será lançado?
Tomikita: Não, nós estamos conversando com gravadoras, mas espero que esse ano.
Como você escolhe escrever suas letras em coreano ou inglês?
Tomikita: Sobre as minhas experiências, é sobre isso que eu escrevo. Eu escrevo várias canções de amor. Eu gosto de canções de amor obscuras. Cure é uma das minhas influências pras letras, eu realmente gosto das letras deles. Eu tive meu primeiro relacionamento quando era muito novo e eu me machuquei na minha primeira experiência quando eu tinha quinze anos. Desde então, toda relação que eu estive foram inspirações para as minhas letras.
Eu tento mentir pra mim mesmo e tento ser educado e escrever letras positivas, mas isso é o que eu sou. Eu gosto da arte obscura. Fazer isso na Coréia é muito diferente. A sociedade coreana dita que você precisa ser positivo e que você precisa ser legal com todo mundo. Legal é uma coisa, mas mentir para você mesmo é muito difícil. Eu ainda tento seguir essas coisas, no entanto.
Vocês tem planos de tocar em outros países europeus no futuro?
Tomikita: Nós adoraríamos! Nós não temos nenhum plano definido no momento.
Existe algum lugar em particular que vocês gostariam de tocar?
Tomikita: Eu adoraria tocar em Londres de novo e eu quero tocar em Paris e na Alemanha...Em toda Europa. Eu amo a Europa. Tem tanta cultura e energia. Eu sou muito fã da Anee Rice também. Espero que se nos fizermos uma turnê na Europa seja com nós três e nós possamos trazer outro membro, talvez outro guitarrista ou DJ.
Quais são seus planos para o futuro?
Tomikita: No momento nós estamos trabalhando com o mercado coreano, tocando em festivais de rock e shows marcados até dezembro. Nós temos alguns shows marcados na Rússia. Eu sou o primeiro artista de rock coreano a lançar um álbum na América, então na Coréia eles nos vêem mais como uma banda internacional do que uma banda coreana. Nós queremos continuar fazendo shows por aí e lançar nosso álbum no Japão e espero que por aqui também.
Vocês tem uma mensagem para os leitores?
Tomikita: Isso é uma revista coreana?
É um site para pessoas que moram na Europa e na América, que estão interessados na música coreana e será traduzido para várias línguas.
Tomikita: Oh, isso é maravilhoso! Eu estou muito feliz de ouvir que existe uma organização na sua área fazendo isso. Se as pessoas se interessarem pela nossa música, eu ficaria mais do que feliz. Espero que tenhamos mais notícias no futuro e uma turnê européia.
Al: Eu ouvi falar sobre o KoME pela primeira vez hoje e, como o Tomi disse, é muito bom saber que existem pessoas por aqui que apreciam a música coreana e é ótimo fazer parte disso e fazer música que as pessoas gostem.
Tomikita: Chung você tem uma mensagem?
Chung: Sejam felizes sempre!
Obrigado!
Todos: Muito obrigado!
KoME gostaria de agradecer TOMIKITA, Rich Kim e D4U Entertainment por tornar essa entrevista possível.