Entrevista com a bem sucedida cantora de jazz Youn Sun Nah antes de seu concerto em Munique, no dia 7 de maio
Você poderia se apresentar e apresentar sua música aos nossos leitores?
Youn Sun Nah: Eu sou uma vocalista de jazz coreana, meu nome é Youn Sun Nah. Eu comecei a estudar música bem tarde, quando eu tinha 26 anos e fui para França estudar jazz. Eu estudei literatura francesa na universidade e depois disso eu tive a oportunidade de participar em uma comédia musical na Coréia e naquele momento eu queria cantar, então eu decidi me mudar para França para estudar as duas coisas, jazz e música francesa. Depois de um tempo, eu formei o grupo chamado Youn Sun Nah Quintett com alguns franceses e nós tocamos em vários festivais na França e ganhamos alguns prêmios. No início, nós tentamos fazer nossa própria música e algumas vezes soava como rock, pop... Algo experimental. Nós tocamos juntos por aproximadamente 10 anos e depois eu quis fazer algo diferente, então eu voltei à Coréia e toquei com alguns músicos de jazz, mas também gravei um álbum pop. Três anos atrás eu conheci Ulf Wakenius e nós decidimos tocar juntos.
Em 1995 você decidiu ir à Paris. Em uma entrevista antiga você disse que foi “par hasard” (por acaso), mas ninguém viaja para outro país por acaso. Qual foi o principal motivo para você deixar a Coréia e de onde você tirou forças para dar esse passo?
Youn Sun Nah: Quando eu estava na escola secundária, eu tinha uma professora muito boa que ensinava francês e ela amava música francesa. Então ela nos deu a chance de ouvir a música francesa e eu imediatamente me apaixonei. Eu sempre pensei sobre isso. Talvez tenha sido por isso que eu decidi estudar literatura francesa. Além disso, um de meus amigos músicos ficava recomendando que eu fosse para a França, porque ele me disse que lá é uma das melhores escolas de jazz.
De onde você tirou forças para ir à França? Poucas pessoas dariam esse passo. Foi fácil para você ou tiveram momentos que você achou difícil?
Youn Sun Nah: Eu não sei. Eu nunca imaginei que seria uma cantora profissional. Eu só queria estudar. Eu achei que cantaria por uns três anos e depois voltaria à Coréia para dar aulas ou algo assim. Então, foi realmente por acaso que eu fiquei.
Você começou com musicais e depois mudou para o Jazz. Por que exatamente você preferiu o jazz e o que o torna especial para você. Jazz lhe proporciona algo que os outros estilos musicais não conseguem?
Youn Sun Nah: Para fazer musicais você precisa de outro tipo de treinamento, é algo complexo. Eu não era boa em dança ou teatro. Eu acho que jazz dá muita liberdade. Apesar de você vir...não sei…do fim do mundo, você pode fazer jazz. Não há fronteiras na música Jazz.
Várias influências latino-americanas, tipo Buena Vista Social Club, se destacam em seu som. Como você conheceu esses diferentes estilos e o que você gosta neles que a faz usá-los tão frequentemente?
Youn Sun Nah: Uau, você acha? Eu nunca pensei sobre isso, mas eu gosto desse tipo de música. Talvez inconscientemente eu o misture. É um estilo que me toca muito. Eu acho que os coreanos são o povo mais latino da Ásia. Talvez eu tenha achado algo em comum.
Que tipo de jazz os outros cantores coreanos fazem? Eles misturam estilos como você faz ou têm estilos bem diferentes?
Youn Sun Nah: A maioria dos cantores de jazz tocam o jazz padrão, que é bastante americano. Porque muitos músicos jovens estudaram no exterior, especialmente nos Estados Unidos, então que eu acho que eles são influenciados pelo jazz americano. O jazz está crescendo rapidamente na Coréia, mas nós não temos muitas informações lá. Então tivemos que imitar. Eu fui muito sortuda de ter ido à Europa.
Você disse em uma entrevista para outra publicação que queria ter uma voz baixa e rouca como a de Billie Holiday, Sarah Vaughan ou Ella Fitzgerald. Seu professor te disse que você deveria cantar com sua própria voz. Como você se sente com a sua voz agora? Você ainda queria ter um estilo de voz baixo e rouco ou agora você acha que sua voz é exatamente o que precisa ser?
Youn Sun Nah: Não, não, não. É uuuugh (ri e balança a cabeça). Eu acho que nunca terei esse tipo de voz, talvez quando eu tiver 70 anos, se eu beber e fumar muito. Mas eu acho que preciso ser eu mesma e tentar fazer o que consigo com a minha voz.
Seu álbum pop foi bem sucedido na Coréia. Você deseja esse tipo de sucesso para os seus álbuns jazz também, ou você concorda com as diferenças de aceitação na Europa e Coréia?
Youn Sun Nah: Jazz na Coréia, apesar de nós termos um grande festival de jazz, ainda é underground. Eu não posso dizer que estou triste. Em outros países você tem uma estação de rádio onde pode ouvir jazz todos os dias, na Coréia nós só temos uma hora por semana, então você não tem muitas oportunidades de ouvir jazz.
O que a fez gravar um álbum pop em primeiro lugar?
Youn Sun Nah: Eu queria voltar para Coréia e queria trabalhar com compositores pop coreanos e fazer música “tocada por músicos de jazz europeus”, então eu falei com o meu produtor e discuti sobre isso. Ele disse “por que não”, então eu chamei Nils Lan Doky, um pianista de jazz dinamarquês que vive em Paris, porque eu gostava de sua música. Ele aceitou e eu lhe mandei as músicas para que ele decidisse se estava interessado. E ele ficou totalmente surpreso com as composições coreanas. Ele não sabia como soaria, mas foi uma grande composição.
Seu último álbum é intitulado Voyage. Qual é o significado por trás do título? O que quer dizer pra você pessoalmente?
Youn Sun Nah: Desde 1995, a primeira vez que eu vim para Europa, eu acho que sempre estive na estrada. Para uma cantora de jazz coreana não é normal ter uma vida nômade. Eu não sei quando irá parar e quando eu estarei satisfeita com essa “voyage” (viagem). Você não sabe quem encontrará e com quem tocará, então o jazz é como uma voyage (viagem).
Você disse que sempre soube que cantaria Jockey Full of Bourbon um dia e finalmente fez isso nesse álbum. Existem outros clássicos do jazz que você sempre quis gravar mas nunca teve coragem até então?
Youn Sun Nah: Como eu não sabia nada sobre Tom Waits antes, quando eu ouvi sua música pela primeira vez eu pensei “Ele é doente? Ele tem problemas?”, porque sua voz é estranha. Mas era muito espiritual e eu sempre quis cantá-la. Eu quero tentar muitas coisas, talvez um dia até mesmo músicas da Madonna.
Qual sua música preferida do Voyage e por quê?
Youn Sun Nah: Todas as músicas são especiais. Cada uma tem sua própria história, então eu não posso dizer que tem uma música que eu goste especialmente. Depende do meu humor.
Quando você escreve suas músicas, você se inspira em alguma coisa especifica, ou você simplesmente escreve?
Youn Sun Nah: Não, é a vida em geral. Eu não me considero uma compositora, eu sou uma cantora. Eu tentei dessa vez e não sei se está bom ou ruim. Para mim é mais como dever de casa, eu sinto como se eu tivesse que fazer.
Então você não tem sessões de improviso com outros músicos quando você subitamente pensa “Oh, isso soa bem! Vamos usar!”, ou você tem uma melodia em mente e resolve escrevê-la?
Youn Sun Nah: Bem, eu trabalho sozinha. Mas talvez eu deva tentar, parece uma boa idéia.
Se você pudesse trabalhar com qualquer artista que já existiu/existe, quem seria e por quê?
Youn Sun Nah: Eu não sei (pensa e ri). Existem tantas pessoas que eu gostaria de trabalhar, eu não posso mencionar só uma. Ah sim...Sting? Quer dizer, eu toco com Ulf Wakenius, isso já é como um sonho.
Sua turnê atual acontecerá de maio até julho e de outubro até novembro, e a levará para Alemanha, Coréia, China, França e muitos outros países. É muito estressante ou você gosta de viajar e conhecer diferentes públicos?
Youn Sun Nah: Depois dos concertos é quando eu posso me divertir. Mas antes dos concertos é muito estressante. Mas sim, eu sou muito sortuda. Por exemplo, na China eu conheci cantores de jazz chineses e eles me disseram que queriam uma carreira como a minha. Eu fui à Xangai com meus músicos franceses e você precisa imaginar uma garota asiática com quatro homens franceses (risos). Para ela isso era um sonho e ela disse que estava orgulhosa de ser asiática. O contato com as pessoas é sempre tocante e cheio de emoção.
Você já conseguiu sentir a diferença entre as platéias de diferentes países? Tem alguma platéia ‘preferida’?
Youn Sun Nah: Em um geral ela é a mesma. Mas a platéia coreana é a mais animada do mundo.
Por quê?
Youn Sun Nah: Você sabe, no jazz você normalmente senta calmamente e escuta. E os coreanos gritam durante os concertos e cantam junto. Existe um festival de jazz na Coréia e no ano passado John Scofield e Joe Lovano se apresentaram lá. A música deles não é tão fácil, você não consegue cantar junto. Mas os fãs eram tão loucos que eles memorizaram todas as melodies de seus álbuns e cantaram com eles nas melodies de guitarra. John Scofield e Joe Lovano não conseguiam acreditar! Jazz não é pop mas os fãs cantaram junto!
Existe algum lugar que você esteja realmente ansiosa para se apresentar ou há algum lugar/país que você ainda não foi que sempre quis ir?
Youn Sun Nah: Eu quero ir ao Brasil. Eu nunca estive lá, mas talvez no final do ano eu irei. Estou discutindo com um organizador no Brasil.
Quase metade de suas performances acontecerão na Alemanha, existe algum motivo pra isso?
Youn Sun Nah: Como o meu álbum acabou de ser lançado por um selo alemão, eles querem que eu toque o máximo possível. Então eles estão organizando vários concertos. Eu estou tão empolgada, porque eu toquei com bastante frequência na França, e apesar de ser perto, é diferente. E meus amigos franceses do jazz sentem inveja de mim.
Você gosta da Alemanha?
Youn Sun Nah: Sim, eu gosto! Especialmente da língua.
Você esteve no palco muitas vezes até hoje – O que você acha de se apresentar? É diferente se apresentar agora do que era quando você começou?
Youn Sun Nah: É sempre empolgante e dá muito medo (risos). Eu não consigo ficar calma, nunca será rotina. Eu queria ser tranquila e calma, mas eu sou nervosa.
Existe alguma performance sua que se destaca em sua mente com relação às outras?
Youn Sun Nah: Sim, quando eu ganhei o Grand Prix no festival de jazz francês. Era algo inimaginável tocar em um estádio tão grande. Houve um concurso e eu me inscrevi, então eu pude tocar lá, onde músicos de jazz lendários como Ray Charles tocaram. Foi algo muito emocionante.
Nos seus dias livres, entre performances, o que você gosta de fazer?
Youn Sun Nah: Eu não gosto muito de fazer compras. Eu fico no hotel. Eu não tenho muito tempo para mim mesma. Por exemplo, eu peguei o avião às 8h da manhã e cheguei na Alemanha por volta de 14h30. Eu tive que preparar umas coisas, checar meus emails...Eu estou sempre com pressa, então não tenho tempo de me divertir antes do concerto.
Boa parte do seu tempo é passado em Paris, o que você especialmente gosta na cidade? Existe algo na Coréia que você gostaria que fosse como na França (e vice versa)? Ou você gosta das diferenças entre os dois países e a variedade que você tem visto de uma à outra?
Youn Sun Nah: Em Paris você encontra tudo. Se você quer ouvir música, se você quer ver um evento, é possível. Tantas coisas acontecem todos os dias. Culturalmente é muito rico. Isso é algo que eu quero levar para Coréia. Eu acho que a Coréia tem muitas coisas, mas continua sendo um país industrial. Isso está mudando aos poucos, mas eu acho que levará tempo até ser como os países europeus.
Nosso site, o KoME, se concentra em trazer a música coreana para um público europeu maior, não importa qual gênero. Você conseguiu ser bem sucedida em seu país natal, Coréia, mas também na Europa e por todo mundo. Você acha que mais artistas coreanos conseguiriam e deveriam tentar também?
Youn Sun Nah: Eu espero que sim, mas eu acho que não é muito fácil para nós entrar nesse círculo. Para mim foi difícil, mas eu fui sortuda de conhecer a pessoa certa. Eu espero que essa sorte possa acontecer para todos, mas eu acho que não é muito fácil para um coreano. Na música clássica nós temos um lado muito forte, mas eu acho que pros outros estilos levará um tempo.
Obrigado por dedicar seu tempo para responder nossas perguntas! Algumas últimas palavras para os nossos leitores?
Youn Sun Nah: Vocês sabem que é meu primeiro concerto em Munique e eu estou muito empolgada. Eu espero que seja legal e eu espero voltar em breve de novo.
KoME gostaria de agradecer Youn Sun Nah e ACT Music por tornar essa entrevista possível.