Asia Girls Explosion

Mais de 11.000 pessoas no Yoyogi Stadium – uma hora depois que as portas estavam programadas para abrir, não menos – tomaram seus assentos, com o local repleto de fofocas e especulações. Após uma série de anúncios feitos em inglês - “Proibido fotos com flash” etc. – fez-se silêncio assim que as primeiras modelos tomaram a passarela exibindo um kitgirl em um preto e branco sóbrio e sensual. A designer Olivia Palermo empolgou a multidão e gritos ressoaram quando HEATH (X JAPAN) passou na passarela, com os longos cabelos negros sobre sua roupa preta e branca. Os olhos foram atraídos para suas botas, trazendo sorrisos de apreciação para o estilo adequado do modelo.

Após a exposição inicial veio um vídeo para apresentar o evento. Raiva. Tristeza. Ásia. Aquário. As palavras apareceram no telão como uma máquina de escrever digitando de longe.

Asia Girls Explosion

Um filme com música do começo do século XX encheu os ouvidos, e imagens de uma festa russa cheia de políticos e da alta sociedade dançando e socializando, piscou no telão. Então, o som de um relógio precede uma barragem de perguntas filosóficas e declarações.

“Quanto sangue é necessário para trazer a paz? Será que o destino precisa de você ou você precisa do destino? O mal não pode existir sem o bem. Você vê Deus na escuridão? Moda devora moda. Moda é fascista? Pare de correr atrás da ocidentalização. Pare de perseguir a verdade. Nenhuma santidade. Nenhuma profanação. Nenhuma palavra com f. Nenhuma revolução.”

“A Raiva e a Tristeza da Ásia existem na ponta da passarela do AGE. Raiva e Tristeza no Aquário é igual ao AGE.”

Uma explosão anunciou a entrada de ninguém menos que Marilyn Manson incorporando a década de quarenta, em um liso, sofisticado… e totalmente escuro John Galliano. A princípio ele agiu como um modelo de verdade, mas logo Manson passou a fazer suas poses não convencionais de rock, com dois dedos em “arma apontados para a boca” e um andar que pingava desdém.

Após a aparição desta celebridade, o desfile se estendeu à moda masculina de rua do século XX. Focando em “estilo” em vez de marca, muitos itens familiares ainda sutis e habilmente alterados tocaram a passarela, como uma camisa havaiana estilo anos 50 que, em uma inspeção minuciosa, trazia os padrões japoneses em vez da familiar flora tropical. Havia muitos estereótipos típicos e excêntricos, incluindo uma roupa tradicional de hipismo com uma moderna capa instalada para afastar a chuva, trabalhadores da construção civil com kanjis controversos gravados em seus capacetes, moda roqueira dos anos 80 com calça xadrez, e até mesmo moda “caseira” com suéteres folgados cinza por cima de boxers rosa, para não mencionar uma fabulosa boina vermelha com glitter com uma jaqueta jeans de rebite. Também havia estereótipos japoneses: “gi” de seda (roupa esportiva tradicional para karatê), otaku-rock, os otakus mais tradicionais e um vistoso casaco com estampa de leopardo amarela que você pode ver em um passeio por Harajuku.

“Pai. Mãe. Professores. Amigos. Bem, o que é certo e o que é errado? Ninguém me ensinou nada. O que é real? O que é falso? Ninguém disse nada. Quem julgará a verdade? O que é falso e o que é real?” A voz da garota levou a plateia de volta para o aquário. Enfim, o significado por trás do título se tornou claro enquanto um panorama aéreo do horizonte de Tóquio à noite aparecia na tela. O diálogo ficou mais controverso - “Há alguém controlando o nosso sistema financeiro global?” – e estranho - “Você não pode nos aprisionar em seu tanque de peixes para sempre. Nós vamos nos libertar desta caixa pequena.” – e totalmente existencial - “Mas hey. Não existe uma resposta. A vida em si é um processo.” – antes de virar um belo contraste de palavrões escritos por toda a tela. “Foda-se. O século XXI será a vinda do mundo da mulher. As mulheres vão recriar e dar-lhe o renascimento. É como deveria ser.”

A supermodelo japonesa Ai Tominaga encabeçou a coleção feminina com uma selva de penas/conjunto de flores amarradas com uma corda festiva japonesa como um cinto. Entre as roupas que apareceram na seção moderna estavam ambas sweet e gothic lolita por Baby the Stars Shine Bright, bem como roupas temáticas de Stitch e Pikachu e o estilo “mori girl” da moda “bosque”. Os estereótipos assinalados através dos tempos, exibindo tendências japonesas extravagantes como “shidora” e “garuson” estabelecendo uma linha adequada de roupas femininas de trabalho dos anos 80.

Quebrando as eras veio um set do DJ NERVO. As mulheres australianas tomram conta do local com músicas como When Love Takes Over, cantada por Kelly Rowland e coproduzida por Nervo Twins.

Imediatamente após o set, seguiu o primeiro destaque da noite.

Violet UK

No piano sentou-se YOSHIKI, que foi imediatamente envolvido por milhares de vozes. SUGIZO também embelezou o palco, adicionando os trinados e guinchos do seu violino ao som da Violet UK. Além do seu papel de vocalista, Katie Fitzgerald dedilhou as cordas de uma harpa enorme, um apelo estético raro e encantador. A bela música ROSA foi a música tema do filme "Goemon" e, apesar do evento ser também a estreia japonesa do projeto, o público estava familiarizado com música e escutou maravilhado. YOSHIKI, vestindo um quimono bem compensado com uma coleira, finalizou o número com talento.

SUGIZO atraiu a atenção da plateia com um solo de guitarra, luzes vermelhas destacaram o aspecto de sucata de seu instrumento. Trazendo o solo para o final, ele agachou numa pose aberta. Imediatamente, começou a introdução eletrônica de Blue Butterfly, YOSHIKI se juntou aos seus companheiros no nível inferior do palco. Ele estava escondido atrás de um teclado com uma guitarra pendurada nos ombros. Pouco tempo depois, entretanto, ele provou que esta guitarra era pra mais do que apenas mostrar e se juntou a SUGIZO. Entre eles, Katie dançou “cage-style” extasiada pela batida enquanto os guitarristas tocavam juntos. Uma atmosfera intoxicante e sexy desceu sobre o estádio. A estrela da noite surpreendeu até mesmo com o seu solo de guitarra, andando na passarela enquanto tocava, exibindo um quimono esplêndido bem como suas habilidades de guitarra antes de voltar correndo para a pista para tocar o teclado e levar o número ao fim.

Um pensamento universal silenciosamente reverberou por todo o local: Não há nada que YOSHIKI não possa fazer?

Desenhar quimonos certamente estava na lista de coisas que ele podia! A Violet UK continuou a tocar durante a mostra YOSHIKIMONO, com a atriz Kaori Momoi fazendo o seu caminho em um quimono com um visual brilhantemente moderno como nunca visto antes. A coleção foi marcada primariamente por preto e branco com variações elegantes e sensuais, com destaques e ornamentações em vermelho e dourado. Os “obis” (cintos) muitas vezes eram formados de muito tule ou cascatas de seda. Muitas peças mostravam sensualmente sutiãs brilhando como uma rebelião moderna contra os aparatos tradicionais. A coleção impressionante retrocedeu aos remanescentes do século XX, retomando tendências dos anos 70 e acompanhada por SUGIZO no violino. Os modelos foram primariamente formalistas e apropriados, mas com um elemento forte, combinando saias retas com longas mangas de seda escapando de um colete com um chapéu. Roupas esportivas, ternos, jeans e lenços de cabeça, todas as nuances das donas de casa, mulheres rebeldes, fortes e recatadas também foram representadas.

As modelos saíram e em seu lugar caminhou uma figura encapuzada, vestindo um trench-coat. Lentamente, os olhos de todos se arregalaram quando reconheceram YOSHIKI sob o capuz. Sacudindo-o, ele estava orgulhoso antes da multidão aplaudir, seu piano subiu para encontrá-lo na plataforma central. SUGIZO desapareceu quando o piano de YOSHIKI começou a aparecer antes dos dois começarem seu segundo dueto da noite. De vez em quando, YOSHIKI dava um sorriso para o público, cujos gritos de adoração atingiram todos os cantos do estádio. A última coleção, que abrangeu as décadas de 50 e 40, subiu ao palco formando um círculo em volta do maestro, contudo o público só tinha olhos para a figura central no palco. Moda country com delicados chapéus de palha e seda com estampas de bolinhas de vários tamanhos no melhor período da moda moderna, ocidental e asiática, entraram em confronto com a música de YOSHIKI. Ele continuou, sozinho no palco mais uma vez, profundamente envolvido na música quando se inclinava sobre as teclas ou se afastava delas. Expressões selvagens e de êxtase apareciam em seu rosto a todo o momento. Batendo nas teclas e se debatendo como um fantoche, ele arrancou gritos de seus fãs. Com um grito, ele bateu nas teclas novamente, abrindo caminho para o segmento final do show.

X JAPAN

“Senti falta de vocês!” ToshI gritou quando o X JAPAN subiu ao palco e YOSHIKI se despiu. O vocalista iniciou uma série de gritos que os fã acompanharam, combinando seus gritos quase como se não tivessem gritado nas performances anteriores. “É isso aí!” ToshI avisou quando YOSHIKI apareceu atrás de sua bateria pela primeira vez na noite, agora vestindo uma camisa preta longa aberta. Born to be Free decolou, a banda tocando num estilo relaxado. Pata vestia um longo casaco preto, com os punhos broncos de seda enrolados e usava bigode e barba aparados. Apesar de no início ter aparecido como um cowboy gótico, HEATH agora exibia penas e o cabelo arrumado de acordo com sua imagem no X JAPAN. YOSHIKI sorriu em seu solo de bateria, e SUGIZO logo se uniu a ele com entusiasmo se jogando de cabeça na música. Em um interlúdio acompanhado de violino, YOSHIKI mudou para o seu piano para uma balada com ToshI. O vocalista parou aqui e ali, hesitando antes de continuar suavemente. Seu vibrato soou tão bonito quanto os dedos de YOSHIKI ao tocar nas teclas. Então, o pianista se tornou baterista novamente e o número terminou em seu agudo original.

Uma intensa abertura de solo de bateria acompanhada por jorros de paixão anunciou JADE tão claro como ToshI pode berrar o título. Enquanto ele cantava atrás de seu microfone, YOSHIKI destruiu na bateria; contudo, foi um tipo divertido de paixão, não intensa. Pelo contrário, SUGIZO estava perfeito como ‘showman’, girando dramaticamente durante um dedilhado no meio do verso. Todas as mãos se levantaram no ar para celebrar o refrão poderoso. YOSHIKI se encaixava animadamente na linha da guitarra depois de arrancar uma virada na bateria. O número foi alcançando o seu fim com outra rodada de jorros de paixão em todos os tons. Mudando a iluminação para azul, inteiramente entrelaçada com as mãos que balançavam do público para criar uma sensação de aquário, dando a impressão de um cardume prateado de peixes em... um aquário. Ao contrário da imagem de paz, YOSHIKI atacou a bateria até os últimos tons, onde o vocalista gritou”JADE!” mais uma vez.

Encorajando o grande mal “Produtor YOSHIKI”, ToshI o imprensou contra a parede, forçando o microfone em suas mãos. Sorrindo docemente, YOSHIKI se dirigiu ao público confessando, “Ser chamado de produtor é embaraçoso. Quem pensaria que o X JAPAN iria colaborar com um show de moda? Mas nós somos V-L,” ele disse como se fosse óbvio. Ele, então, consultou tanto o público quanto ToshI muitas vezes sobre se o X JAPAN já tinha tocado Yoyogi antes, então espontaneamente sugeriu que eles deveriam fazer isso da próxima vez. Ele assumiu para si o encargo de fazer um importante anúncio, mas esgotado pela noite, ele desistiu e entregou o microfone para ToshI. Entre seus esforços combinados, eles anunciaram que sua nova música Scarlet Love Song iria ao ar como música tema do anime “Buddha” em maio. Isso, aparentemente, trouxe a repentina decisão de tocarem uma versão estendida da música ainda a ser ouvida. “Você cantaria?” YOSHIKI pediu ao amigo de infância e parceiro de banda. “Farei por você” ToshI cedeu.

Enquanto YOSHIKI tocava o piano, ToshI cantou suavemente, e imagens do anime proporcionaram um estímulo visual no fundo. Então, um dramático solo de piano entrou no repetitivo refrão de I.V., que o público rapidamente se inteirou. ToshI contribuiu aqui e ali, gostando do som aumentando em volta dele antes que o grande e pesado número trouxesse o que faltava do X JAPAN de volta ao lar, guitarras tocando por todos os lados e YOSHIKI atrás da bateria mais uma vez. Obviamente no último agudo, ele pulou, quicando antes do verso. Enquanto isso, ToshI andou ao lado de PATA, que tinha um sorriso atrevido, SUGIZO cuidadosamente arrebentou na guitarra. HEATH foi o próximo a receber a atenção de ToshI quando o vocalista atirou os braços em volta de seus ombros. O público cantou, ajudado por SUGIZO entre as letras que o vocalista não cantava. Eles derramaram suas almas nisso até que ToshI gritou “Obrigado! Vamos nos encontrar de novo! Tchau!”

O grand finale veio quando YOSHIKI voltou para as passarelas, fumegando sobre seus pés, enquanto brincava timidamente com seu cabelo e sorria para o público. Katie Fitzgerald entrou no palco, cantando I’ll Be Your Love”. Enquanto isso, garotas de Hollywood, supermodelos, DJs e estrelas tomaram a passarela para se juntar a YOSHIKI, abraçando-o e provocando-o, acenando para o público e balançando com a música. Manson não só abraçou o produtor, mas até o beijou afetuosamente na bochecha. Glitter caiu sobre o palco assim que as modelos da noite se enfileiraram na passarela e a plataforma central com o piano subiu ainda mais alto, mostrando YOSHIKI a todos.

O palco clareou e YOSHIKI executou um atlético pulo no piano, onde ele se deleitou em uma glória bem recebida. O público soltou a respiração em uníssono quando uma gravação de Tears inundou o local. Eventualmente, o piano voltou ao nível do palco, YOSHIKI pulou antes mesmo de o piano descer e andou pela passarela uma ultima vez. No palco, ele se virou e reverenciou o público antes de sair pela última vez.

Não apenas um show de moda, não apenas um show, não apenas um conceito - Asia Girls Explosion é o começo de um movimento, um desses eventos que muda o mundo, que inspira novas ideias muito depois de acontecer. Nós podemos apenas desejar que o fenômeno se repita, testemunhado e adotado por todo o mundo.