O festival
SOUL REBEL fez 10 anos no último dia 11 de outubro. Foi iniciado em 2000 pelo selo
OVERHEAT MUSIC, que também é estúdio, gerencia artistas (
MOOMIN,
PUSHIM,
H-MAN) e edita a revista mensal
Riddim Magazine, que é referência no cenário do reggae japonês e o promove desde os anos 80.
Festejado todo outono em Tóquio, o evento ocorreu no Parque Hibiya, uma área pitoresca a céu aberto, cercada pelo concreto dos prédios do governo. Antes que os convidados subissem no palco, aromas inebriantes exalavam dos estandes de takoyaki e yakisoba. Para entrar no festival, o público teve de fazer fila próximo aos estandes de cerveja.
O palco em Hibiya era um espécie de anfiteatro. No evento, ele foi coberto com uma grande bandeira, decorada com as cores da bandeira rastafári — que também são as cores do festival. Os japoneses, que por vezes traziam suas famílias, levavam caixas térmicas com lanches e bebidas, o que pareceria surpreendente a um espectador estrangeiro. As crianças mais novas se misturavam, mas muitas se separaram na hora em que o festival estava prestes a começar. A atmosfera do evento estava cheia de expectativa, e o cronograma mostrava que o que havia de melhor no reggae japonês participaria daquela grande reunião. Agora, a hora do show!
SOUL REBEL — PARTE 1:
Antes de o show realmente começar, o sound system
HUMAN CREST tocava enquanto os espectadores procuravam seus assentos. Após esperarem alguns minutos, o show teve início com a banda de apoio
ALPS BAND. Menos conhecidos que sua contraparte, o
HOME GROWN, e mesmo sendo um pouco menos habilidosos, os músicos fizeram uma ótima performance durante a primeira parte do show.
Essa parte do concerto foi dedicada a artistas menos famosos, entre os quais estava
AKANE, que havia lançado seu segundo álbum,
Straighter, em agosto. Seu novo single,
Dancehall Head foi bem recebido pela plateia; no entanto, ela não ficou por muito tempo no palco. Outra cantora,
MISON-B, de Osaka, tomou seu lugar. A força da sua voz era impressionante. Ela fez um belo dueto com
APOLLO, outro artista promissor de Osaka.
Mas o destaque da primeira parte foi o trio conhecido como
ENT DEAL LEAGUE. Esse grupo é composto por três cantores que vinham se apresentando há algum tempo em pistas de dança japonesas:
MICKY RICH,
DOMINO-KAT e
KEN-U. Eles se apresentaram nas vésperas do lançamento do seu segundo álbum,
ABCDEnt. Os dois primeiros tinham um estilo dancehall que
KEN-U complementava com seu vocal em estilo reggae. Com essa apresentação, o clima esquentou e ficou bem mais agitado.
A primeira parte terminou com o sound system
TAXI HI-FI, que fez um mix em homenagem a
Steely (cujo verdadeiro nome era
Wycliffe Johnson), falecido em setembro. Ele era um famoso produtor de dancehall reggae, conhecido pela dupla
Steely & Clevie. Isso encerrou a primeira parte do show, em que participaram os artistas mais jovens e de menos prestígio, com carreiras ainda em formação. Em seguida, viria a nata da cena japonesa de reggae!
SOUL REBEL — PARTE 2:
Esse é o momento em que vemos as grandes estrelas chegarem, com o grupo
HOME GROWN, e foi
Tanco, o líder, que fez as cordas do baixo soarem.
HOME GROWN é um nome prestigiado que todos os artistas amadores de reggae no Japão conhecem muito bem. Como era de se esperar, a atuação do grupo foi simplesmente impecável. Para quem não conhece, o
HOME G é composto por cinco membros:
Tanco (líder, baixista),
L-Watch (guitarrista),
Mama-R (tecladista),
Shinji Man (percussionista) e
Yukky (baterista). Presente em numerosos shows e festivais como banda de suporte e, portanto, capaz de criar diversas trilhas incríveis, o
HOME G é uma verdadeira pérola.
A primeira performance deles foi com o
RANKIN TAXI, que fez a plateia rir. Apesar da má qualidade dos seus vídeos, eles podem ser encontrados no
perfil de ROLMUSIC no YouTube.
RANKIN TAXI estava cheio de energia, mas logo cedeu o lugar a
CHEHON, músico de Osaka, cujo estilo era inconfundível. Com seus populares hits, não era de se espantar tanto sucesso.
Depois foi a vez de
NANJAMAN e sua voz gutural, com
SUPER CRISS, do
FIREBALL, entrando em seguida como convidado surpresa. Esse último não estava na lista de apresentações, mas a popularidade do
FIREBALL rendeu ao cantor calorosas boas-vindas.
CRISS, sempre com classe, tocou duas ou três músicas antes que o
MIGHTY JAM ROCK, trio de Osaka, chegasse para incendiar o palco.
E, sim, o
MIGHTY JAM ROCK era fantástico ao vivo. "Os três mosqueteiros" (que também é o título de seu último álbum,
The three musketeers, lançado em julho) deram ao público momentos de puro dancehall e ocuparam o palco com grande animação.
JUMBO MAATCH,
TAKAFIN e
BOXER KID tocaram enquanto começava a anoitecer em Hibiya. Depois,
RUDEBWOY FACE fez sua entrada seguido por
NG HEAD, um ágil DJ de Osaka conhecido por seu estilo ragga e seus sound clashes.
Após sua apresentação, ambos os artistas saíram, e
H-MAN deu as caras. Figura emblemática do reggae japonês, ele já participou de muitos clashes com
NG HEAD, episódios fantásticos que permanecem gravados na memória dos amantes do j-reggae. Apesar disso,
H-MAN é uma pessoa séria: fora dos palcos, sua expressão tranquila, olhar ríspido e o cigarro na boca passam a imagem de alguém que tem controle sobre si mesmo. No show, suas músicas
Futaiten e
Dangan Tooku tinham uma batida rápida, que lembrava o som de um revólver.
Mas o
SOUL REBEL teve seu derradeiro momento com
MOOMIN. O cantor criou um clima especial com seu estilo "romântico". Sua voz contrastava agradavelmente com as dos artistas que o precederam. A multidão entrou em sincronia com
MOOMIN quando as bolhas de sabão flutuaram pelo palco. Foi uma das imagens mais bonitas do festival, ilustrando a união entre os espectadores e os artistas.
O cantor também colaborou com
YOUNGSHIM e
NG HEAD na música
Day by Day. Foi aí que, então, entrou um artista amigo de
MOOMIN,
RYO the SKYWALKER. Os dois dividiram o palco cantando
More Than Friend, do último álbum de
RYO,
Love-A-Dub Showcase. Do mesmo álbum,
RYO interpretou divinamente
Koko ni aru ima wo tomo ni aruki dasou, assim como
EVERGREEN, uma de suas canções mais bonitas.
O final do festival foi verdadeiramente um sucesso, com um repertório mais orientado para o reggae do que para o dancehall. Porém, infelizmente, o fim logo chegou, com a apresentação da Rainha do Dancehall Japonês,
PUSHIM. A voz da rainha era tecnicamente impressionante. Ressoou pelo Parque Hibiya e deixou a plateia sem palavras, à medida que assistiam atenciosamente à memorável apresentação. Ela também cantou com o grupo
C.A.M.P, cujas iniciais vêm de
CRISS (
FIREBALL),
Akane,
MOOMIN e
PUSHIM. Eles interpretaram em conjunto
Rock di Camp com o tom característico de cada um.
Assim terminaram as apresentações dos artistas solo, que, para o encerramento do 10º aniversário da
SOUL REBEL, reuniram-se no palco para formar a família que é a cena do reggae japonês, certamente um dos cenários musicais mais ativos do Japão hoje em dia.
O JaME gostaria de agradecer à OVERHEAT MUSIC e ao festival SOUL REBEL pelo convite.
Créditos pelas fotos: OVERHEAT MUSIC, Hiroto "PHOTOWARRIOR" Sakaguchi